Colecionámos viagens, roupas, postais, pétalas... Um sem número de objetos, paisagens, sonoridades... O efémero. Basta um gesto simples e o castelo da infância desfaz-se, depois é só empacotar a coleção. Retirar as marcas dos pregos das paredes, disfarçar a tinta arrancada. Há restos que se varrem para debaixo dos tapetes. E, só mais tarde, algum tempo depois dos castelos ruírem, é que se aspiram as últimas migalhas dos escombros.
Dizem-nos que as casas são espaços, com janelas e portas, corredores, quartos e objetos que diariamente acumulamos à vista de quem nos visita. Isso é o que facilmente nos ensinam, e aprendemos sem interrogar muito o universo. Ainda assim, escondem-nos a verdade mais antiga. As casas são os corpos. O meu e o teu. Aconchegados, onde quer que haja telhado, ou céu, que nos traga frio e sol à pele. Estamos permanentemente em fuga às evidências. Se isto fosse uma lição capaz de ser ensinada, começaríamos, ao primeiro encontro, por destruir todo e qualquer prenúncio de alicerce. O teu corpo, a minha casa.
Dei-me conta de que todos os poemas inacabados são para ti. Inacabados porque há palavras suspensas nos braços, nos sorrisos, nos olhos. Há palavras suspensas nos lábios. Eu quero que os poemas fiquem inacabados para que as palavras continuem suspensas. À tua espera.
O teu sorriso segura-me antes de eu chegar ao chão.
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