segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Quartos
















morrissey | you have killed me

i entered nothing and nothing entered me
'til you came with the key
and you did your best but
as i live and breathe
you have killed me

passaram alguns meses depois de ter decorado o teu rosto
passaram alguns dias depois de saber o teu nome,
passaram algumas horas depois de deixar o teu quarto.
do meu quarto ao teu quarto o tempo é um corredor sombrio
que  flutua na margem das imagens.
encontro-me deitada sobre o manto suave da espera, encontro os meandros
de um academismo fétido
um manto suave ruidoso que me consome a espera, que me arde pela espera,
embora não esteja à espera de nada, concretamente, a não ser, talvez,
de mais espera.
por dentro atravessa -me uma canalização fragilizada pelos anos.
a pele do medo faz-me escorrer pelo quarto
ou serão estas paredes rachadas pela humidade que me inundam as ideias?
na voz sinto o peso dos móveis e o peso de todas
as impressões digitais de todos os outros estudantes que como eu os utilizaram.
na boca, a memória salgada de ti, ou a memória salgada
daquilo que penso que sejas,
daquilo que eu gostaria que fosses,
daquilo que eu gostaria de ser com aquilo que eu gostaria que fosses.
o medo a contrariar a idade, o elogio do pessimismo pousado sobre a cómoda
e já passaram alguns minutos depois de te começar a odiar.

Sara F. Costa

1 comentário:

Luis disse...

o peso dos móveis é fodido

até as palavras podem ser, duma maneira ou doutra