terça-feira, 3 de novembro de 2015

You turn from me and said the trapeze act was wonderful but never meant to last

















iron & wine | the trapeze swinger

Jurei não escrever nunca mais. Coisa tão impossível, como respirar. E o coração foi mirrando, fez-se pedra. Depois julguei que morria de esquecimento por não saber o que fazer com as mãos e o peso no peito. Fomos íntimas durante noites intermináveis, a desesperança e eu. Ninguém soube, mesmo assim. Ora, como um presságio qualquer a música voltou até mim. E eu fugi até onde pude, escondi-me em rotinas e obrigações, recusei a sua presença, fingi até que este refrão não estava já entranhado em mim, por dentro da pele. Jurei nunca mais ir a concerto nenhum. Como é possível esperar tantos anos que uma bênção aconteça e ela nos caia aos pés no momento mais triste das nossas vidas? Não é um milagre, disse, é uma provocação. Mesmo assim, de coração apertado, de mãos frias e pernas a tremer, respondi à letra, sentei-me quieta e calada. Senti-me gasta e cansada no meio de pessoas felizes. Mas fui, em noite de temporal, também ele interior.

O que aconteceu ontem não há-de caber em palavras. Eu estava lá sozinha, a música foi toda para mim, toda até ao fim. A magia também. De repente voltou a vontade de me desfazer em palavras, de me dissolver em chuva, de rir até chorar. Chorar até deixar de doer, até me esquecer de mim, de ti, e de todos. O tempo todo não chegou, é certo. Faz de conta que ninguém me viu chorar, que o nervoso miudinho não me fez apertar as mãos uma contra a outra até ficarem dormentes, faz de conta que não ri por dentro ao pensar na minha figura absolutamente descompensada. Faz de conta que esta música ecoou do palco só para mim, que a cantei do princípio ao fim, para dentro. Dentro, fundo, muito dentro e muito fundo. A trapezista fui eu, e o espectáculo foi bonito, pois foi. Duas guitarras: uma alegre e outra triste. E eu que sou sempre do lado dos tristes, caramba.

Corações ao alto, o meu incluído. (Obrigada por isso, Sam.)

6 comentários:

Luis disse...

ok, pelo menos eu pelo meu lado vou fazer de conta
mas só porque valem muito

Luis disse...

Ah tive q sair antes do fim da musica, mas já me embalou

Luis disse...

Brrrrrr n era nada disto que queria dizer

É tão bom qd se sai de um sitio com a cabeça assim

Há bocado estava a ler-te e a reviver-me em momentos assim

De vez em quando está-se 'assim' :) e porra esses são os momentos de que não nos lembramos todos os dias mas nunca esquecemos

obrigado por me desenterrares esses momentos

ana disse...

os milagres aparecem de diversas formas, provocações, absurdos... por aí... :)

ainda bem que voltou a escrever.
*

Vanessa disse...

Sim, de facto foi um desses momentos... :)

Vanessa disse...

Ainda bem... :)