quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Amamos o que não conhecemos





















fink | this is the thing

Amamos o que não conhecemos, o já perdido.
O bairro que foi arredores.
Os antigos que não nos decepcionarão mais
porque são mito e esplendor.
Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler.
A saudade, não a leitura, da segunda parte do Quixote.
O Oriente que, na verdade, não existe para o afegão, o persa ou o tártaro.
Os mais velhos, com quem não conseguiríamos
conversar durante um quarto de hora.
As mutantes formas da memória, que está feita do esquecido.
Os idiomas que mal deciframos.
Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais do que um hábito.
Os amigos que não podem faltar porque já morreram.
O ilimitado nome de Shakespeare.
A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa.
O xadrez e a álgebra, que não sei.

Jorge Luís Borges

2 comentários:

josé luís disse...

ah jorge luís...

Carlos Soares disse...

parece um prelúdio ao O Outro Poemas dos Dons... Todo o poema de Borges teima em ser O Poema!Perfeito...