Todas as palavras,
as que procurei em vão,
principalmente as que estiveram muito perto,
como uma respiração, e não reconheci,
ou desistiram e partiram para sempre,
deixando no poema uma espécie de mágoa
como uma marca de água impresente;
as que (lembras-te?) não fui capaz de dizer-te
nem foram capazes de dizer-me;
as que calei por serem muito cedo,
as que calei por serem muito tarde,
e agora, sem tempo, me ardem;
as que troquei por outras (como poderei
esquecê-las desprendendo-se longamente de mim?);
as que perdi, verbos e substantivos de que
por um momento foi feito o mundo.
E também aquelas que ficaram,
por cansaço, por inércia, por acaso,
e com quem agora, como velhos amantes sem
desejo, desfio memórias,
as minhas últimas palavras.
Manuel António Pina
(um ano de palavras. desprendendo-se longamente de mim.)
4 comentários:
Que hajam mais: anos e palavras!:)
parabéns e obrigada!
bj*
um diário assim... provoca dependência a quem o lê! que nunca te faltem as palavras. Parabéns!
completada a risonha translação solar,
espera-se que mantenha uma órbita elíptica
(...e obrigado pela viagem)
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