quarta-feira, 28 de setembro de 2011

E eu disse que havia de levar-te flores



ben harper | morning yearning

E perguntei-te se também morrias.
E tu disseste: Sim.
E eu disse-te: Que vai ser de mim?
E tu disseste que nesse momento já seria crescido.
E eu disse-te: Não vejo a relação.
E tu disseste que sim, que havia uma relação.
E eu disse: Bom.
E tu disseste que todos nós tínhamos de morrer.
E eu perguntei-te se para sempre.
E tu respondeste: Sim.
E eu disse-te: Então, e o céu como é?
E tu disseste que isso era depois.

Sim.

E eu disse que havia de levar-te flores.
E tu perguntaste-me: Quando?
E eu respondi: Quando morreres.
E tu fizeste: Ah!
E eu disse que havia de levar-te flores, e disse também: Papoilas.
E tu disseste-me que era melhor não pensar nisso.
E eu disse-te: Porquê?
E tu disseste-me: Porque sim.
E eu disse: Bom. E depois perguntei-te se nos íamos encontrar no céu mais tarde.
E tu respondeste-me: Sim.
E eu disse: Ainda bem.

Sim.

E depois perguntei-te quem a tinha inventado.
E tu disseste: Inventado o quê?
E eu disse: Essa história da morte.
E tu disseste: Ninguém.
E eu disse: E o resto?
E tu disseste: Qual resto?
E eu disse: Essa história do céu.
E tu disseste: Ninguém.
E eu disse-te: É boa. E disse-te ainda: Pois. E depois disse-te: Quando morreres, faço da tua barriga um tambor.
E tu disseste-me: Isso não se diz.
E eu disse-te: É pecado?
E tu disseste: Não.

Fernando Arrabal