Tem paciência. Estás há 34 anos a dizer
palavras, é natural que te canses
do ouro carregado nos dentes ciganos,
do poema. Cala-te um bocado junto ao mar
já tão cansado de lirismo e de piratas amadores,
exausto de motivos para a fina poluição do verso.
Aluga um moinho, compra umas cerejas frescas,
um salpicão, a vinha do tempo dos avós.
Leva contigo um quilo de castanhas, o disco da primeira separação, o teu par de patins amarelos.
Vê se dormes. É preciso dormir — mais do que calar.
Endireita as costas e a mala breve,
rega suficientemente as plantas que vais deixar morrer,
põe-te na estrada, cala-te um bocado.
E faz-nos, a todos, um favor:
Não escrevas uma linha enquanto estiveres lá.
Filipa Leal
(34 anos e uns meses, vá.)
1 comentário:
tão bom :)
beijinho
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