Com a idade aprendemos
que o amor existe
na confluência de dois verbos:
o verbo recordar e o verbo ensandecer.
A memória mais antiga que guardo do teu rosto
ainda vem prenhe de uma juventude
que eu próprio ajudei a dispersar
no vento
- enquanto lentamente enlouquecia
entre quadros antigos, livros por ler
e a sombra de gatos que percorriam de noite
os telhados do meu desassossego.
A matura idade aproximou-se dos portões
da loucura, desse limiar que reside
entre o desencanto e a mais pura solidão
- e foi aí que inscrevi o teu nome
como se nele coubesse inteira
a eternidade.
Não sei com quantas letras se escreve
a raiz do teu corpo.
Não sei com que outras mãos afagas
a sombra do desejo.
Não sei onde me escondo se perguntas
pelos ecos do passado.
Sei apenas que perdurará para além da morte
o ser inteiro em ti
imperfeito
ausente
mutilado
mas enlouquecendo devagar nas tuas veias.
Manuel Alberto Valente
2 comentários:
tão bom :)
Tira-nos o ar.
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