domingo, 8 de novembro de 2015

A alma que caía

















portishead | glory box

Havia dias em que a alma lhe caía, ficava com a alma baixa, entre os pés, quase a rasar o chão. A alma descaída sob suspeita, dizia.

Nesses dias, um mau olhar, uma falta de atenção ou uma frase qualquer, um adjectivo a mais, algo inesperado, em suma, podia estropiá-lo completamente e dar cabo dele e da sua alma, no meio da rua.

Isto vinha a acontecer desde que lhe contaram uma história, a sua própria história,  aquela que ele recordava ter vivido de outra maneira, quase feliz.

Mas agora já sabe, já lhe contaram como essa história de amor se estropiou antes do fim, ao longo dos últimos meses. Quando ambos se separaram e ele rastejou até à praia dos mutilados, ignorava completamente o que mais tarde lhe contariam com todos os detalhes: que já havia indícios de manchas entre os dedos daquele amor, muito antes de acabar mal.

Por isso agora, diz que há dias em que a alma lhe cai ao chão e lhe fica entre os pés, embaraçada nos atacadores dos sapatos.

Alberto Tugues

(daqui.)

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