tim buckley | phantasmagoria in two
Este perfume, hálito benigno, incêndio espectacular de crateras extintas, este perfume é a estrada dos teus cabelos, das tuas superstições, das tuas violências absurdas, mulher-noite, mulher de espinhos com a tua floresta de água salpicada de estrelas, estranha, opaca, a todos os túmulos única, a todos os títulos notável!
Este perfume, hálito benigno, incêndio espectacular de crateras extintas, este perfume é a estrada dos teus cabelos, das tuas superstições, das tuas violências absurdas, mulher-noite, mulher de espinhos com a tua floresta de água salpicada de estrelas, estranha, opaca, a todos os túmulos única, a todos os títulos notável!
A tua voz desliza nos confins da geleira que é o teu corpo entre nuvens e ondas furiosas, recordação vingativa, bússola doida condenado o tempo. Este tempo, o nosso! Eu acredito no inacreditável. Haverá um tempo para os comboios de espuma e para os aviões de lama. E um outro tempo para as tuas mãos desenrolando os caminhos, para o reflexo da tua cabeleira imitando as marés, para a máquina giratória do teu sexo livre, para a fotografia do teu rosto em chamas.
Não há razão para queimar a esperança. O teu leito ainda está húmido de orvalho e os teus olhos ainda se negam aos Deuses. A realidade da tua nuca Evereste de gelos eternos, a carreira sem fim dos teus braços arco-íris circundando o meu corpo, a cordilheira da tua pele macia onde as minhas mãos se apoiam, são ainda o único motor para o looping no espaço, a única clareira onde o sonho floresce, a única estrada que só conduz a si mesma.
Eu digo-te que não há razão para queimar a esperança, esta esperança que tinge os teus lábios e vai contigo até ao fim dos abismos, êxtase delirante onde não existe o Presente e onde o Futuro é um espasmo violento, uma chama súbita em que eu e tu nos fundimos.
Não há razão para queimar a esperança, esta rubra mistura de sonho e lava, perfeitamente conjugada como um círculo em repouso. Tenho-te sempre nos meus braços, no meu ser, e por isso quando me debruço nos debruçamos no precipício olvidamos a nossa condição de indivíduos para sermos o fluxo e o refluxo da História.
Já não somos o que se classificaria de um homem e de uma mulher, mas sim uma multidão de sombras povoada de nuvens, a fusão de dois ácidos, a resolução de um problema.
A minha carne é o teu nevoeiro perpétuo.
Pedro Oom
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