Desde as áridas paredes alugadas,
entre móveis alheios e pesadas cortinas
que a bruma e a chuva pretendem ocultar.
Desde o hostil refúgio de uma garrafa de genebra,
volto, preciso de voltar, àquela tarde.
Àquele pequeno bar, um nada iluminado,
à segura posse de umas mãos, de uns lábios
que jamais voltarão a ser meus.
Foi um dia, tempos depois de nos termos separado para sempre,
ou pelo menos de o termos prometido, entre insultos e gritos,
na pesada cólera do álcool.
Outra vez juntos, sentados frente a frente,
ouvindo o monótono correr de uma canção,
por entre os rostos e o fumo parado sobre as mesas,
com atitude distante repetíamos os gestos do costume,
a comédia banal da defesa ou do cansaço.
E logo um sorriso, o leve roçar de outra pele,
talvez o doloroso tremor das recordações, enredou os nossos olhos
e por um instante, o bafo cálido da ternura
que não encontra palavras chegou-se aos nossos corpos,
amparando o seu humilhado mendigar sem descanso.
Depois tudo acabou definitivamente,
a vida foi mais poderosa do que nós,
mas agora nada importa senão aquela tarde,
aquele momento de união irrepetível,
a tepidez de uma pele, de uns lábios, cuja mera recordação
protege esta noite o meu coração, dá-me força
para continuar o erro de viver até amanhã.
Juan Luis Panero
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