o Sol entra aqui devagarinho
com medo de ficar cansado.
guarda, no bolso,
para o regresso da noite,
sementes de luz enxuta
e um trevo de dar sorte.
na segunda casa, à esquerda,
um homem morreu muito novo.
vou-me embora dentro do fim do dia,
deixou escrito,
o amanhecer está puído, de tão gasto.
encontraram cicuta num canto de moldura,
e um nome de mulher.
o vento, quando cá chega,
é um sopro de labirinto,
qualquer coisa de tenaz
que aperta o peito dos muros.
os olhos dos meninos estão caídos
à espera de um pássaro que os levante,
desenham, a cinza, o horizonte
num pedaço de ardósia muito antigo.
e a vida vai partindo cada dia
como se não doesse ao coração
cada bago de silêncio não dar vinho,
cada lágrima de tempo
não dar pão.
quem nos pôs aqui, minha irmã?
eu fiquei de costas, como sempre.
Emanuel Jorge Botelho
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