E se, de repente, o tempo se estendesse até ao infinito e o teu olhar, contra o meu olhar, se demorasse e fosse a forma contrária de um desejo que se alastra, o desejo aqui e ali, um riacho a correr ou uma parede a abrir brechas, uma parede a abrir brechas pequenas, a respiração lenta e pesada, o corpo louco de ti, o milésimo de segundo em que deposito um beijo nas tuas pálpebras, a soma de dois corpos, madrugadas sempre adiadas, a grande loucura da felicidade que nunca soube dizer.
E se, de repente, o tempo nos fugisse entre os dedos e o meu olhar, contra o teu olhar, fosse o teu olhar contra o meu olhar, a forma exacta do desejo, universo paralelo, árvore ao vento, pedra redonda, os corpos opacos, o milésimo de segundo em que depositas um beijo nas minhas mãos, depois as almas translúcidas, o gesto, a leveza, os caminhos, o exacto momento em que nos encontramos, a soma de duas vontades, tudo o que há e não há, o princípio de um amor que cresce devagar.
(São três da manhã. Tu permaneces a meu lado, os meus olhos abertos de espanto, e eu sou só um sorriso nos lábios.)
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