terça-feira, 26 de novembro de 2019

As certezas do meu mais brilhante amor *





leonard cohen | dance me to the end of love

Nunca digo que gosto de ti…

Mas gosto das coisas que existem porque tu mas mostraste e das que só moram em ti, e que são tão altas como a vida. Como te consomes, por tanto consumires o mundo e de como lhe reinventas os contornos da lucidez num fechar de pálpebras. Gestos casuais, onde te tentas esconder, porém tão teus. Gosto até mesmo dos imprevistos e dos sem medida e sem comparação. É que vives no meu azul, nas minhas canções e nas minhas danças imaginárias, por isso vê lá, até gosto de sentir a tua falta aqui e no fim do mundo e de te encontrar em todos os segundos dolentes que me atravessam. De precisar sempre e cada vez mais de ti.

Gosto das tuas linhas rabiscadas, rebuscadas e apagadas nas janelas que abres para dentro de mim. De saber as tuas deixas, ainda mesmo quando as enrolas entre os dedos, debaixo da língua ou as sentes no peito. É então que me perco e aninho nas sílabas gotejadas pela minha boca, que tem sempre o silêncio de não te saber dizer, tudo aquilo que te digo do outro lado da porta fechada, onde me acordo em mãos cheias de palavras, que escorrem agora pelos meus dedos. Gosto do meu fio a pavio, que sabes de cor e salteado, que gostas e que queres, mesmo cheio de nós e de enleios.

Gosto como aguardas que me parta, que me dispa, que me desmascare até aos limites infinitos da previsibilidade. De mim só queres tudo. Mesmo quando me viras a cara, fazes que não me vês, me mandas embora, me chamas pelo nome, ris do meu cabelo e desdenhas até me levar ao desespero. Tropeço em mim mesma, fico feita num oito, parto-me em quatro, porque me encostas à parede mesmo que não saibas que o fazes, sabendo sempre o que fazes. Acho que me tens viva na tua mão, essa, onde te escrevo e me entrego, essa que juras que não me vai deixar cair.

Gosto da tua voz nos intervalos do silêncio, que seja a única que oiço sobre os telhados, anónimos, dos lugares em volta, dos lugares em mim. Dos olá, dos bom dia, boa tarde ou boa noite, que nunca dizemos, mas que sabemos que existem e transformam, surpreendentemente, mesmo a mais triste realidade em algo melhor. Que tires das minhas palavras coisas que não são para dizer, nem para ouvir. Saber que para ti existo antes e depois das dores imensas, que doeram mais que tudo, e ter a certeza que todas as feridas um dia desaparecerão, saradas.

E gosto do teu ar confiante, inseguro, cansado, apalhaçado, tímido e adocicado. Quando fazes tudo para me fazer rir, chorar e apaixonar. Quando me deixas sem fôlego e sem saber de mim. Quando me acordas ou quando me aconchegas, dos teus beijos mágicos no meu ombro direito, de todos os beijos: dos escritos, descritos, ditos, dados, dançados, abraçados, chorados, obrigatórios, inevitáveis, necessários, por dar.

Era um dia, um lugar, um acidente e ambos fingimos que não sabíamos. Era uma distância tão ínfima que nos tentei matar sempre que te aproximavas mas hoje sei que, sempre que o fizer, viverás sempre mais. E mais forte.

Quase nunca digo que gosto de ti… Mas digo que gosto da forma como gosto de ler os teus olhos, mesmo na íntima lonjura, onde encontro tudo quanto à altura de amor é mais perfeito. Se nunca disser que te amo, será que nunca o senti? É que a gostar-te como eu gosto de ti, eu só posso amar-te.

Tenho a certeza.

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