tag:blogger.com,1999:blog-34407336153363094462023-11-16T07:09:28.215+00:00sketches for my sweetheart the drunkum diário destes não magoaVanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.comBlogger481125tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-48737866053066120502022-06-17T14:25:00.001+01:002022-06-17T14:25:23.865+01:00How it ends<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6fuZY9fvrAUU3mRiweY2lIIXtGo1jlIDQZAXM5GF3XRVTQMUlg4gHluY3YZYJ4Pp2zwE0I4y2rOyLwNHQYGDfJzQraF8o7bvFk4A2iPKZT7S8EOg5-8GtMKSGLdhBFgUdmEekYaFWAlwwSdR5el5WPwv6VJ4RHFT5wFxJ13W7KpGNq2BQrRAHX24A/s280/7574630a124fe06b16361f12cbc5c0ce.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="280" data-original-width="197" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6fuZY9fvrAUU3mRiweY2lIIXtGo1jlIDQZAXM5GF3XRVTQMUlg4gHluY3YZYJ4Pp2zwE0I4y2rOyLwNHQYGDfJzQraF8o7bvFk4A2iPKZT7S8EOg5-8GtMKSGLdhBFgUdmEekYaFWAlwwSdR5el5WPwv6VJ4RHFT5wFxJ13W7KpGNq2BQrRAHX24A/w281-h400/7574630a124fe06b16361f12cbc5c0ce.jpg" width="281" /></a></div><br /><div><br /></div><div><br /></div><br /><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/Pfi1UQ_PKQI" width="420" youtube-src-id="Pfi1UQ_PKQI"></iframe></div><span style="font-size: x-small;">devotchka | how it ends<br /></span><div><br /></div><div><div style="text-align: justify;">quem nos parte deixa para trás um rasto de coisas por nomear. dizemos</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">este é o rio em que te miravas, a tarde alongando-se para lá da ponte e o chápe-chápe das ondinhas suaves criando um caminho por onde os pássaros desciam e vinham beber o entardecer e o silêncio. quem nos parte deixa para trás todas as outras coisas do mundo por nomear. dizemos</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">aqui pensámos nos dar as mãos e os abraços</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">aqui nos falámos das pequenas tristezas e olha, aquela é a cor exacta dos teus olhos. quem nos parte habita depois os lugares</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">longe longe</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">em que a memória concebe outras histórias e os nomes se instalam em nós</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">devagarzinho e muito devagarinho nos enxugamos de tanta água.</div></div>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-91780963011312908482021-10-05T17:23:00.002+01:002021-10-05T17:25:23.906+01:00O medo<p style="text-align: right;"></p><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPHOpyvIQoBzBU7BOXDt6ZL3edtkhOVDlyo9_4uZObfcvmwpaQqW5abklcuSyUD4XBJ55JY05jhcmA390qXMYNiqpffg2Zu_dZSsg_nr0I_FeGFU8tXLVY0OTFlv62pef0rboVzkOLQzI/s600/0007+B+Berenika.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="600" data-original-width="600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPHOpyvIQoBzBU7BOXDt6ZL3edtkhOVDlyo9_4uZObfcvmwpaQqW5abklcuSyUD4XBJ55JY05jhcmA390qXMYNiqpffg2Zu_dZSsg_nr0I_FeGFU8tXLVY0OTFlv62pef0rboVzkOLQzI/w400-h400/0007+B+Berenika.jpg" width="400" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; font-style: italic; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/NbhQGAzxDnc" width="420" youtube-src-id="NbhQGAzxDnc"></iframe></div><div style="text-align: left;"><span style="font-size: x-small;">joan shelley | siren </span></div><p></p><p style="text-align: right;"><i>Às vezes sinto-me tão desesperado que me</i></p><p style="text-align: right;"><i>sento a escrever como quem chora.</i></p><p style="text-align: right;"><b>Eugénio de Andrade</b></p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;">Fechas os olhos e tens cinco anos outra vez, trincas as bochechas como quando tens medo, cerras os punhos e esperas que passe mas o coração bate cada vez mais depressa, a voz não sai, tens um nó na garganta e sabes que ninguém te pode ajudar. Passaram os anos e tu aprendeste a esconder tudo debaixo do tapete. Até que o desespero te faz gritar em fúria as palavras que julgaste esquecer. Às vezes recusas olhar para dentro porque tens vergonha do que te tornaste. Um monstro. E só a escrita te salva.</p>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-25742528125536750122021-07-05T14:38:00.005+01:002021-07-05T20:43:33.068+01:00Quando calada, a voz é já o começo de um grito<p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS-f0CZ6lAEH_gzLyZ7iMvzq-z-s3rRH0g0WbTwx2SiW1vMzPa7Hs1D1QALW-LXhqVk1_vTgiZAnzJHDfWGI24ihCJ_O_X8dfr_2X7PB7ISXzLPyzyu-lrglqfHsayH0M0MjkT0NS3MXI/s750/kvfcXuoeUmJ9JcUBFrj4KFBJzXWvEsrrCA2u1qN6svA.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="750" data-original-width="498" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS-f0CZ6lAEH_gzLyZ7iMvzq-z-s3rRH0g0WbTwx2SiW1vMzPa7Hs1D1QALW-LXhqVk1_vTgiZAnzJHDfWGI24ihCJ_O_X8dfr_2X7PB7ISXzLPyzyu-lrglqfHsayH0M0MjkT0NS3MXI/w265-h400/kvfcXuoeUmJ9JcUBFrj4KFBJzXWvEsrrCA2u1qN6svA.jpg" width="265" /></a></div><br /><p></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/lH56e2OQD0Y" width="420" youtube-src-id="lH56e2OQD0Y"></iframe></div><span style="font-size: x-small;">cat power | werewolf</span><p style="text-align: justify;">Colecionámos viagens, roupas, postais, pétalas... Um sem número de objetos, paisagens, sonoridades... O efémero. Basta um gesto simples e o castelo da infância desfaz-se, depois é só empacotar a coleção. Retirar as marcas dos pregos das paredes, disfarçar a tinta arrancada. Há restos que se varrem para debaixo dos tapetes. E, só mais tarde, algum tempo depois dos castelos ruírem, é que se aspiram as últimas migalhas dos escombros.</p><p style="text-align: justify;">Dizem-nos que as casas são espaços, com janelas e portas, corredores, quartos e objetos que diariamente acumulamos à vista de quem nos visita. Isso é o que facilmente nos ensinam, e aprendemos sem interrogar muito o universo. Ainda assim, escondem-nos a verdade mais antiga. As casas são os corpos. O meu e o teu. Aconchegados, onde quer que haja telhado, ou céu, que nos traga frio e sol à pele. Estamos permanentemente em fuga às evidências. Se isto fosse uma lição capaz de ser ensinada, começaríamos, ao primeiro encontro, por destruir todo e qualquer prenúncio de alicerce. O teu corpo, a minha casa.</p><p style="text-align: justify;">Dei-me conta de que todos os poemas inacabados são para ti. Inacabados porque há palavras suspensas nos braços, nos sorrisos, nos olhos. Há palavras suspensas nos lábios. Eu quero que os poemas fiquem inacabados para que as palavras continuem suspensas. À tua espera.</p><p style="text-align: justify;">O teu sorriso segura-me antes de eu chegar ao chão.</p>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-8867799460179399062020-12-27T22:19:00.005+00:002020-12-27T22:21:04.685+00:00Everybody's gotta learn sometime<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIO5yNzp0V2h4NXFi2uQTvJSRZXdNr8p_NIQ11cIkrlO-_hs5zUFm-DfnsRYWeQyo8y6g1AbOGZwjsvCIT00iBLt9ijDFWfHdkSTopECseVu-zJ0ZX1v4XxS_PL8G3Q14ygBVeoV_evnc/s765/Jill+McLaughlin.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="765" data-original-width="532" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIO5yNzp0V2h4NXFi2uQTvJSRZXdNr8p_NIQ11cIkrlO-_hs5zUFm-DfnsRYWeQyo8y6g1AbOGZwjsvCIT00iBLt9ijDFWfHdkSTopECseVu-zJ0ZX1v4XxS_PL8G3Q14ygBVeoV_evnc/w279-h400/Jill+McLaughlin.jpg" width="279" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/uMoXXrDb3VM" width="420" youtube-src-id="uMoXXrDb3VM"></iframe></div><span style="font-size: x-small;">beck | everybody's gotta learn sometime</span><p style="text-align: justify;">um destes dias deu por si a pensar que ultimamente se sentia presa de palavras. daquelas que se dizem alto, em conversa com outros. e poderia dizer <i>não consigo falar sobre isto ou sobre aquilo</i>, sobre afectos, sobre política, sobre um filme ou música. mas não, não conseguia simplesmente dizer. e o pouco que dizia parecia-lhe desarticulado, sentia as palavras como coisa fora de si. elas fugiam-lhe sorrateiramente. sempre disseram de si ser uma <i>boa ouvinte</i>. era muito atenta ao ressoar dos outros, à linguagem do corpo e dos silêncios.</p><p style="text-align: justify;">pensa que a linguagem é um músculo. que tem de o exercitar. e o certo é que não tem feito muito por isso. pensa que tem estado demasiado tempo presa ao indizível, a todas as tentativas de o dizer. sempre disse só para si. ainda assim, há muito tempo que deixou de se ouvir e fazer eco. e por isso, todas as palavras lhe parecem estranhas mesmo quando ficam por dizer.</p><p style="text-align: justify;">encontra-se repetidas vezes sem direcção. não sabe do norte, do sul. confunde esquerda com direita. direita com esquerda. não sabe ler mapas e perde-se amíude por aí. quando habita por dias uma cidade estrangeira, faz questão de vaguear sem geografia. esquecer os pontos cardeais. depois, claro, fica com mazelas no corpo, com inchados tornozelos, com calos de ser perdida. da cartografia da cidade traz consigo as ruelas e becos que encontrou, perdidos, achados, numa esquina de si.</p><p style="text-align: justify;">sair de si, sim. voltar a si para sair de si. voltar a si, sim.</p>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-39053557089887059352020-12-21T20:49:00.000+00:002020-12-21T20:49:16.013+00:00A única inocência é não pensar<br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzlpNfH4qXCVB1BfM34L_ryHnRYyeInfx2O-RCz6wFeqndhN0LgVUfwOEHP9-soUObS-oqaAJRFpNWOigdu1-LyqW6zwOVWufeqVt0vJcb2RVT53nUEwWr89IoHIffmTZSx5ENJmGyTyM/s751/FB_IMG_1608582974119.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="751" data-original-width="750" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhzlpNfH4qXCVB1BfM34L_ryHnRYyeInfx2O-RCz6wFeqndhN0LgVUfwOEHP9-soUObS-oqaAJRFpNWOigdu1-LyqW6zwOVWufeqVt0vJcb2RVT53nUEwWr89IoHIffmTZSx5ENJmGyTyM/w400-h400/FB_IMG_1608582974119.jpg" width="400" /></a></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/NbhQGAzxDnc" width="420" youtube-src-id="NbhQGAzxDnc"></iframe></div><span style="font-size: x-small;">siren | joan shelley</span><div><br /></div><div>deve existir uma outra noite<div>onde caibamos todos</div><div><br /></div><div>inocentemente felizes</div><div>a comer laranjas</div><div>e a discutir problemas de aromas</div><div>de flores</div><div><br /></div><div><b>Francisco Duarte Mangas</b></div><div><b><br /></b></div><div><b><br /></b></div><div style="text-align: right;">Quando a infância é um lugar escuro ainda existem poemas que nos salvam.</div><div style="text-align: right;"><br /></div></div>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-45419022413940761092020-10-29T16:44:00.004+00:002020-10-30T06:06:59.535+00:00A história mais bela que conheço<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCaVHkM6Ob-KT8XmROg9iVEez2gQ27x6ib-sq0Dw56HjSL9ZxsjQAb50pkQZAK_4Ln65S-XxRVFFXR3yXem7TLZw_o0APuTZqgR8PBnocliWhIFpZVjJDJFk-y4yG3qCqoMWkhpdvP1Lg/s500/tumblr_mf5wzwKSkF1qe31lco6_400.jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="500" data-original-width="392" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCaVHkM6Ob-KT8XmROg9iVEez2gQ27x6ib-sq0Dw56HjSL9ZxsjQAb50pkQZAK_4Ln65S-XxRVFFXR3yXem7TLZw_o0APuTZqgR8PBnocliWhIFpZVjJDJFk-y4yG3qCqoMWkhpdvP1Lg/w314-h400/tumblr_mf5wzwKSkF1qe31lco6_400.jpg" width="314" /></a></div><br /><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span><p></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><span style="background-color: #fefdfc;"><br /></span></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/avv2IIdDnnk" width="420" youtube-src-id="avv2IIdDnnk"></iframe></div><div><span style="font-size: x-small;">mazzy star | fade into you</span></div><div><br /></div>Conta-mo outra vez: é tão bonito<br />que não me canso nunca de escutá-lo.<br />Repete-me outra vez que o pardo conto foi feliz até à morte.<br />Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer<br />lhe ocorreu enganá-la. E não te esqueças<br />de que, apesar do tempo e dos problemas,<br />continuaram beijando-se cada noite.<br />Conta-mo mil vezes por favor:<br />é a história mais bela que conheço.<br /><br /><b>Amalia Bautista<br /></b><br />*<div><br /></div><div style="text-align: justify;">Somos todos tão velhos quando sabemos tudo o que importa saber. Vá, conta-me essa história. Pode ser secreta, dessas que se contam baixinho quando as ruas se esvaziam e as cidades adormecem nos olhos mágicos de uma criança. Conta-me então essa história como se fosse uma criança pequena e sentada no teu colo eu precisasse das tuas palavras para que o mundo - este onde mesmo agora caí - fizesse sentido.</div><div style="text-align: justify;">Dizes: a história mais indiscreta é a que os olhos olham e narram. Dura mais de três segundos e pode germinar de uma só palavra. Mas essa tu sussurras, é secreta. Não há nada no mundo mais importante que, assim aninhada entre os teus braços, saber que lá fora entre os pregões da multidão porque hoje é sábado e o grasnar das gaivotas, a vida se dá em episódios tão breves como estações onde os comboios param para recolher mãos, olhos, beijos e o corpo numa promessa de sol. </div><div style="text-align: justify;">És belo como uma paisagem toda recortando-se contra a eternidade. Sim, essa mesmo onde as palavras se escondem em ocasos de silêncio e laranjas impossíveis, assim tão translúcidos como diamantes. E os meus olhos percorrem o teu corpo como se quisessem decorá-lo. É tão breve a eternidade. Tão breve, dizes. </div><div style="text-align: justify;">Olha, subitamente não ouço já o restolhar das árvores, o rumor das aves, dos frutos amadurecendo em qualquer boca ávida lá fora no mundo, onde antes a brisa se abria em folhas largas e nelas se escrevia esta história que para ti guardei.</div><div style="text-align: justify;">Não é verdade, é apenas o Verão, a humidade do Verão voando em espirais de um calor que trepa pelos ramos e rebenta numa outra música. Por vezes o silêncio é tão estridente como gestos e aqui sob as tuas mãos a minha pele parece ter ganho essa liquidez: esse rumor do mundo desagua agora em mim - ouves? - palavras secretas como círculos de água vão nascendo no meu ventre e tu lentamente entras em mim. É importante que saibas que é por isso que o mundo lá fora parece ter desvanecido. Mas não, está apenas à espera que tu acabes de contar-me esta história.</div><div style="text-align: justify;">Que eu penso: como pedra, como árvore ou água, como a asa impossível de uma ave ferida, eu existindo sob a viagem mais longa da tua língua aprendo: não há nada mais para saber, apenas o teu nome. Esse nome, esse apeadeiro secreto do tempo dentro de mim. Depois até pode voltar a ser Primavera, eu me darei em frutos assim todos contidos numa única flor, corpo-teu, húmida-carne-tua, vida-em-mim.</div><div style="text-align: justify;">E agora olho dessa janela indiscreta nesse comboio que um qualquer artista sonhou num qualquer dia (pode ser ontem, hoje, agora mesmo) num qualquer lugar (pode ser esse que acontece sob as tuas mãos quando caio nos teus dias e deixo que me traces uma paisagem com céu ilimitadamente azul) e digo: conta-me essa história. Para que o mundo - este mesmo onde ainda agora caí - faça sentido.</div><div><div style="text-align: justify;">Vejo tão claramente por dentro dos teus segredos que também eu sou velha. Tão velha como os velhos são. E nós dois, duas almas antigas, a envelhecer juntos.</div></div>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-87800011576391621192020-08-28T07:52:00.003+01:002020-08-28T07:52:42.261+01:00Da solidão<div class="separator"><div class="separator" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="202" data-original-width="280" height="253" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi1SvMy7bcG3fPe-tQAj4Mve-Yq1NzUS2lKxEK046mUbD-KIBM2sS76xv9lKLn2XoPwEJrLoCHgyp3jQPSaZ95fKWA7b1iMgjAywVNZIICc94x9LNDEoWXSu9Lx7FAA4S_PRO4Id0vzp-A/w350-h253/monoladee.jpg" width="350" /></div></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen="" class="BLOG_video_class" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/vS053pzsIZM" width="420" youtube-src-id="vS053pzsIZM"></iframe></div>rodrigo leão & beth gibbons | lonely carousel <div><br /></div>Tornámo-nos impermeáveis na solidão:<div>dentro da pele não viaja ninguém;</div><div>fora da pele ninguém nos vê passar.</div><div><br /></div><div><b>Jesús Jiménez Domínguez</b></div>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-72593276385862549572020-05-26T23:42:00.001+01:002020-05-28T23:04:00.791+01:00One day i will find the right words, and they will be simple *<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBotBy1YGtUXO09qblqOLWddM3AfOzc6xRhcw0bPBTVWIovILXy68J9EAWtmlp2fHOREgoA0S5kT3neVp2FRm5FXnd7I8WroHYH6AWgoD2nMSEIePoQ5l4STKXJyEa2jOIZfEJaRIaLI/s1600/katia+chausheva.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="378" data-original-width="400" height="377" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpBotBy1YGtUXO09qblqOLWddM3AfOzc6xRhcw0bPBTVWIovILXy68J9EAWtmlp2fHOREgoA0S5kT3neVp2FRm5FXnd7I8WroHYH6AWgoD2nMSEIePoQ5l4STKXJyEa2jOIZfEJaRIaLI/s400/katia+chausheva.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/utN-04wL_h0/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/utN-04wL_h0?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>
cat power | the greatest</small><br />
<br />
Desde que me lembro de ser gente, desde que tomei consciência do meu rosto triste nos espelhos, tento ter uma atitude comedida - todos os dias - uma espécie de tentativa inglória para agradar a toda a gente, sem exceção - a todos, menos a mim mesma. Por vezes deixo escapar algum gesto exagerado das mãos, ou algum esgar infantil que ainda sobra dos dias inocentes de leite e bolachas de canela da minha avó. Tenho alturas de ouvir vozes quase imperceptíveis numa espécie de sussurro, que imediatamente me impelem um silêncio forçado. Por isso, assumo toda a culpa do que me acontece e deixo-me ficar petrificada, de olhar perdido, enquanto a maior parte das vezes deixo a água escorrer veloz na banca do lava-loiça. Sabes, desde sempre odiei (sim, eu sei que é uma palavra muito forte) tons de voz que subiam, ou movimentos demasiado bruscos devido a uma família sentimentalmente ruidosa. E eu, desde a infância, mesmo quando ficava muda e com as mãos a tapar os ouvidos num canto aleatório da casa, esmagada por todo e qualquer barulho, sentia a opressão de uma vida sem silêncio a crescer dentro de mim, onde qualquer movimento se transformava numa tragédia anunciada aos quatro ventos ou tudo parecia tornar-se palco de palavras violentas e surdas. Talvez entendas agora: assim fui aprendendo aos poucos a calar, a falar pouco e, depois de refletir, a nunca ter pressa para falar, a prolongar o mais possível os meus tempos de reação preenchendo-os com olhares de perplexidade e sorrisos de incerteza perante a realidade que sempre conheci. Depois foi muito fácil acomodar-me na dormência dos dias e deixar-me levar - durante décadas - por uma apatia aparentemente confortável e acolhedora, essa paz podre que nada questiona.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje amanheço dolorosamente, escrevo aquilo que posso e construo-me esta madrugada letra a letra, devagar. Das palavras que para ti guardo não sei mesmo se alguma delas faz sentido. Não importa. Há nestes dias ansiosos qualquer outra coisa que espreita e que me rouba o pensamento para os dias nublados da infância. Não sei já dizer. Não encontro a palavra mais justa para dizer - e nos olhos que baixo na tua presença há já uma outra cor. Outra cor da minha dor calada.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sabes, às vezes dói-me os dedos, de tanto os cerrar, ou a pele, tanto faz, e as madrugadas tornam-se frias. E mesmo quando as tuas mãos vêm ao meu encontro, a memória do caos e da dor insiste em permanecer, cruel, solitária, a lembrar-me o medo e o desespero das horas caladas e vazias. E choro para dentro. E quando finalmente adormeço no calor dos teus braços, fica-me a sensação de te ter amado tão pouco, e tu mereces tudo. Porque - nunca - ninguém em tempo algum, amou assim como tu, o meu amor calado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Amo-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
* Jack Kerouac</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-71979308329570753392020-03-03T17:50:00.000+00:002020-03-03T21:16:48.702+00:00O milagre do tempo: tu<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglXjqBUQ-sctpyOljgXlXHBpjaZ5s_nkot8Gj1BTS9yvF2btfGIXmG_0aB93yu9fH_4G8uRLNytmh2FxHBBPul7rj91tVzaZXUC8tMbhuuEbah2sH8CuILUMjwE06pPdj6nI81vFaVcVI/s1600/home__by_floralsky.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="536" data-original-width="799" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglXjqBUQ-sctpyOljgXlXHBpjaZ5s_nkot8Gj1BTS9yvF2btfGIXmG_0aB93yu9fH_4G8uRLNytmh2FxHBBPul7rj91tVzaZXUC8tMbhuuEbah2sH8CuILUMjwE06pPdj6nI81vFaVcVI/s400/home__by_floralsky.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/BDboXQQR4Kc/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/BDboXQQR4Kc?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>
camané | triste sorte</small><br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
A felicidade, meu amor, tem a temperatura do teu colo. A chuva a fechar a noite, os cobertores a aquecerem-nos os pés, o meu cansaço, a tua mão no meu cabelo. O mar podia entrar agora pelo chão da sala, invadir a cama, que nem assim eu acordaria.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
(...)</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há muito que a hora de jantar já passou, por isso eu na sala escura, a janela preferida da casa aberta porque a chuva cai com força lá fora, parece destruir tudo. Costumava gostar desta janela em dias assim, sentia-me feliz ao ver a água a cair no muro baixo em frente, ao imaginar o mar bravo, perto. Hoje sinto-me cansada deste inverno. Sinto falta do sol, dos dias compridos, das noites quentes, do tempo que não escasseava, como não escasseava o entusiasmo.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O rádio não pára de suspirar a voz quente do fadista: ando na vida à procura de uma noite menos escura que me traga o luar do céu. Volto a ouvi-lo agora que conto o tempo para o teu regresso. O calendário que não tenho diz-me que faltam apenas uns dias. Mas a saudade arrasta os minutos e inventa o sono para eu atravessar a escuridão mais depressa.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Lembro-me, então, dos nossos primeiros encontros. Eu a rezar para que chegasses atrasado: dava-me tempo para respirar, para pensar nas exactas palavras que te diria quando te visse. Depois chegaste - sempre tão bonito, vi-te, fiquei atrapalhada, beijaste-me. E eu, a achar a minha roupa tão ridícula, tudo tão fora do sítio em mim, sem saber o que dizer e o que fazer, apesar de tudo pensado, bem medido, planeado. Mais tarde veio o passeio em frente ao rio, o concerto que tanto queríamos ir, a viagem a Londres. Quando lá chegámos, tu a dizeres a nossa casa, enquanto subíamos as escadas para finalmente chegarmos ao quarto. A nossa casa. Eu só a ouvir: a nossa casa. E a rir-me. Meu Deus, como me fazias rir, especialmente depois daquela manhã tão atribulada! E eu a pensar que de certeza desaparecerias nos próximos dias, já estava a ter a minha dose de felicidade. E entretanto contavas histórias, se calhar para abafar os meus silêncios: tuas, dos teus amigos, das tuas viagens. E eu pensava que gostava de te ter conhecido desde sempre, saber de todos os teus passos, como era a tua voz em criança, a que brincavas no jardim da escola, quantos gafanhotos apanhaste, se tiveste medo do escuro, se te escondias como eu dentro de um guarda-fatos velho à procura de aranhas, para depois as queimar com um fósforo. Um mar de pensamentos a correr na minha cabeça.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Se eu ainda não te amasse na altura, teria sido aí que começaria: sob o céu cinzento de Londres, numa primavera bem distante já deste inverno que por mais que eu faça, parece não se desentranhar de mim.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-60263779475821147752019-11-26T00:06:00.002+00:002019-11-26T00:07:05.000+00:00As certezas do meu mais brilhante amor *<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicaXWOtZbOtI46eK8wtLwWCQtga6NfKeFlN2h9wGGgPw72lRads44fqWTYPTTb4Yk1Tg5cXUxrtMZLixSUlL9A39wEWZHkfYrLc7zciDF2Nu_ESX7xFRSSJZ7mbBd6F4cuarK6Bgh-Klg/s1600/f_Scienceofslm_7c21686.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="220" data-original-width="590" height="148" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEicaXWOtZbOtI46eK8wtLwWCQtga6NfKeFlN2h9wGGgPw72lRads44fqWTYPTTb4Yk1Tg5cXUxrtMZLixSUlL9A39wEWZHkfYrLc7zciDF2Nu_ESX7xFRSSJZ7mbBd6F4cuarK6Bgh-Klg/s400/f_Scienceofslm_7c21686.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/NGorjBVag0I/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/NGorjBVag0I?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>leonard cohen | dance me to the end of love</small></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nunca digo que gosto de ti…</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas gosto das coisas que existem porque tu mas mostraste e das que só moram em ti, e que são tão altas como a vida. Como te consomes, por tanto consumires o mundo e de como lhe reinventas os contornos da lucidez num fechar de pálpebras. Gestos casuais, onde te tentas esconder, porém tão teus. Gosto até mesmo dos imprevistos e dos sem medida e sem comparação. É que vives no meu azul, nas minhas canções e nas minhas danças imaginárias, por isso vê lá, até gosto de sentir a tua falta aqui e no fim do mundo e de te encontrar em todos os segundos dolentes que me atravessam. De precisar sempre e cada vez mais de ti.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto das tuas linhas rabiscadas, rebuscadas e apagadas nas janelas que abres para dentro de mim. De saber as tuas deixas, ainda mesmo quando as enrolas entre os dedos, debaixo da língua ou as sentes no peito. É então que me perco e aninho nas sílabas gotejadas pela minha boca, que tem sempre o silêncio de não te saber dizer, tudo aquilo que te digo do outro lado da porta fechada, onde me acordo em mãos cheias de palavras, que escorrem agora pelos meus dedos. Gosto do meu fio a pavio, que sabes de cor e salteado, que gostas e que queres, mesmo cheio de nós e de enleios.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto como aguardas que me parta, que me dispa, que me desmascare até aos limites infinitos da previsibilidade. De mim só queres tudo. Mesmo quando me viras a cara, fazes que não me vês, me mandas embora, me chamas pelo nome, ris do meu cabelo e desdenhas até me levar ao desespero. Tropeço em mim mesma, fico feita num oito, parto-me em quatro, porque me encostas à parede mesmo que não saibas que o fazes, sabendo sempre o que fazes. Acho que me tens viva na tua mão, essa, onde te escrevo e me entrego, essa que juras que não me vai deixar cair.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Gosto da tua voz nos intervalos do silêncio, que seja a única que oiço sobre os telhados, anónimos, dos lugares em volta, dos lugares em mim. Dos olá, dos bom dia, boa tarde ou boa noite, que nunca dizemos, mas que sabemos que existem e transformam, surpreendentemente, mesmo a mais triste realidade em algo melhor. Que tires das minhas palavras coisas que não são para dizer, nem para ouvir. Saber que para ti existo antes e depois das dores imensas, que doeram mais que tudo, e ter a certeza que todas as feridas um dia desaparecerão, saradas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E gosto do teu ar confiante, inseguro, cansado, apalhaçado, tímido e adocicado. Quando fazes tudo para me fazer rir, chorar e apaixonar. Quando me deixas sem fôlego e sem saber de mim. Quando me acordas ou quando me aconchegas, dos teus beijos mágicos no meu ombro direito, de todos os beijos: dos escritos, descritos, ditos, dados, dançados, abraçados, chorados, obrigatórios, inevitáveis, necessários, por dar.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Era um dia, um lugar, um acidente e ambos fingimos que não sabíamos. Era uma distância tão ínfima que nos tentei matar sempre que te aproximavas mas hoje sei que, sempre que o fizer, viverás sempre mais. E mais forte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Quase nunca digo que gosto de ti… Mas digo que gosto da forma como gosto de ler os teus olhos, mesmo na íntima lonjura, onde encontro tudo quanto à altura de amor é mais perfeito. Se nunca disser que te amo, será que nunca o senti? É que a gostar-te como eu gosto de ti, eu só posso amar-te.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Tenho a certeza.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-41920412063597864482019-08-05T17:30:00.000+01:002019-08-05T17:30:05.222+01:00Do silêncio <div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNlqj2EXDgZGUndMnGrx8YbjLhuOT7jBtzdNtUJnLqYkhyphenhyphenY9HrvVjLOYobzKvnuvLLcanWwzUDJJe5h3BqVleU41AfBAjBh6VX3HF3rRgi54dhWW4PUC0IeV05__HQxMcbIg8NapL_soY/s1600/861fecb182afd7bc155c89fa067b0535.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="640" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNlqj2EXDgZGUndMnGrx8YbjLhuOT7jBtzdNtUJnLqYkhyphenhyphenY9HrvVjLOYobzKvnuvLLcanWwzUDJJe5h3BqVleU41AfBAjBh6VX3HF3rRgi54dhWW4PUC0IeV05__HQxMcbIg8NapL_soY/s400/861fecb182afd7bc155c89fa067b0535.jpg" width="266" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/NbhQGAzxDnc/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/NbhQGAzxDnc?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>joan shelley | siren</small> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O que não é dito corrói-nos por dentro, faz-nos crescer um nó indecifrável na garganta. Achámo-nos pouco dignos das palavras, guardámo-las a sete chaves, como se fossem preciosas e tivessem de ser ditas no tempo certo. E depois o momento passou, ninguém nos diz que o tempo certo não existe. Sabemos eventualmente que somos especiais, mas nada é dito, até que nos esquecemos do que somos e nos recolhemos no silêncio e num passado de mágoas. Um silêncio ensurdecedor, maligno, impuro, que tudo leva e tudo arrasta. E depois chega alguém que te desperta desse transe, que tu reconheces no meio do caos, alguém disposto a trazer-te de volta. E tu simplesmente não sabes como porque enterraste o passado lá atrás e tocar nessa ferida dói demais. Continuas a viver escondida naquele canto da casa, atrás da porta, sem pedir socorro. Aprendeste a viver nas aparências da normalidade, a fugir das perguntas com um sorriso. A responder com outras perguntas. Para não pensares naquilo em que te tornaste: uma mentira. Quando olhas ao espelho não te reconheces. Dizes: olha em frente, haverás de te encontrar algum dia. Então porquê o medo? Voltaste à criança assustada para descobrires que estás presa num labirinto de memórias más. A coragem ficou lá atrás? Onde estás? O que aconteceu aos teus olhos? Dás graças todos os dias por teres encontrado alguém verdadeiro a quem podes abrir o coração, mesmo que o julgues de pedra, quase morto, sem valor. E essa pessoa não sabe, e tu pensas que sim porque assumes que sabe, só pode saber. E ele diz-te sempre que as palavras contam, que são importantes. E são. Então porquê este nó na garganta se o que tu mais queres é falar e gritar ao mundo: tu encontraste-me e vês-me como sou, contigo eu perco o medo? Camuflada tantas vezes essa dor que te achaste apenas a seguir um caminho escolhido pelos outros, sem coragem de dizer: eu sinto, eu estou aqui. Tantas vezes rezaste para não darem por ti a chorar que te tornaste invisível a ti própria. Alguém triste que acha que talvez não mereça amor, que não conhece amor, por todos os muros que criou e não sabe como os derrubar. Só para que nunca te vissem chorar. Existe cobardia maior que esta? Não creio.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-9206415430661418262019-06-17T22:21:00.001+01:002019-06-17T22:23:04.046+01:00Down by the water<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf_FH9U3m0EcqD-hn_NKPlfGkaKEIl697mwHVhBoAbeLFkaRh5AqOnRzRUnn6K_hagXW9aSE_NIyRbPb6Cd1Hl8R26xsCynFhCcUzeevn6507BGFYr9ibxrapFNj46zCaUUW7FZfP6wqw/s1600/TryingToStayDry_tm.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="266" data-original-width="400" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf_FH9U3m0EcqD-hn_NKPlfGkaKEIl697mwHVhBoAbeLFkaRh5AqOnRzRUnn6K_hagXW9aSE_NIyRbPb6Cd1Hl8R26xsCynFhCcUzeevn6507BGFYr9ibxrapFNj46zCaUUW7FZfP6wqw/s400/TryingToStayDry_tm.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/lbq4G1TjKYg/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/lbq4G1TjKYg?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>pj harvey | down by the water</small></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
sempre achou que de todas as estações do ano, era a estação da chuva a que melhor combinava consigo. gostava de vestir-se para esses dias. gabardine, botas e guarda-chuva. a este, preferia-o transparente, deixando à mostra as varas da sua construção.</div>
<div style="text-align: justify;">
mas do que mais gostava, era de fingir-se esquecida de todos os artefactos e de sair para a rua, chorando a sua existência de água. a chuva na nuca até às entranhas. e não podia passar longas temporadas sem ela, sentia-se como solo a precisar de ser regado.</div>
<div style="text-align: justify;">
reagia sempre com uma certa estranheza quando lhe diziam que a chuva era incómoda, que era chata. nessas alturas lembrava as galochas dos seus seis anos e o chapinhar nas poças de água. precipitação. queda. tempestade. sentia-se mais viva nos dias em que chovia. o que esperava mesmo era o inundar de cada fenda dos seus ossos contraídos. mais do que um fenómeno metereológico, havia dias em que a chuva era um estado de si.</div>
<div style="text-align: justify;">
lá no fundo acreditava que a seguir a um dia chuvoso talvez fosse mais fácil o florescer da tão anunciada primavera. e isso muito poucos viam nela.</div>
<div style="text-align: justify;">
por estes dias sentia-se enferrujada, como coisa que foi deixada demasiado tempo à chuva. precisava de descobrir o caminho para as manhãs de sol que começavam a romper em dias limpos a cheirar a malmequeres.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-11165233892868040272019-04-29T22:59:00.001+01:002019-04-29T22:59:19.792+01:00Con toda palabra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj10V6HPc8Eo6I2M5AdhAuhs9pLB3L_SASDbHqldP4z4JIcDeHIHlgKwGFxgnlH_9_GdweYXmFQQnjkilC_NNJL-mz6RI6sInekdNzF-b7fvxVpG_NmkeGewTBvtOoh-TZNZsxwSr-Ouq0/s1600/6914850691_6c0593c7bd_b.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="765" data-original-width="1024" height="298" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj10V6HPc8Eo6I2M5AdhAuhs9pLB3L_SASDbHqldP4z4JIcDeHIHlgKwGFxgnlH_9_GdweYXmFQQnjkilC_NNJL-mz6RI6sInekdNzF-b7fvxVpG_NmkeGewTBvtOoh-TZNZsxwSr-Ouq0/s400/6914850691_6c0593c7bd_b.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/uGNk_zHy4Mg/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/uGNk_zHy4Mg?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>lhasa de sela | con toda palabra</small></div>
<div>
<br />
(...)<br />
<br /></div>
Durante a primavera inteira aprendo<br />
os trevos, a água sobrenatural, o leve e abstracto<br />
correr do espaço –<br />
e penso que vou dizer algo cheio de razão,<br />
mas quando a sombra vai cair da curva sôfrega<br />
dos meus lábios, sinto que me falta<br />
um girassol, uma pedra, uma ave – qualquer<br />
coisa extraordinária.<br />
Porque não sei como dizer-te sem milagres<br />
que dentro de mim é o sol, o fruto,<br />
a criança, a água, o deus, o leite, a mãe,<br />
o amor,<br />
<br />
<br />
que te procuram.<br />
<br />
<br />
<b>Herberto Hélder </b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-7485339234092154342018-11-23T16:37:00.000+00:002018-11-23T16:48:51.942+00:00- Mãe?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQM5DsE7m4bcauqr9ytyfNTnYDRYVUKPIL0cNw3PPPAytEgnJOwtDKMoBSm1UAIOFgkSRvB_9GMcDK36UGwQnlSgHHQYWsGraoVJ7uyjHbIoLqAlHoQVKD7GDMFZvpsBSawJVidgityGM/s1600/klimt-a-mae-e-filho-d.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="972" data-original-width="726" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQM5DsE7m4bcauqr9ytyfNTnYDRYVUKPIL0cNw3PPPAytEgnJOwtDKMoBSm1UAIOFgkSRvB_9GMcDK36UGwQnlSgHHQYWsGraoVJ7uyjHbIoLqAlHoQVKD7GDMFZvpsBSawJVidgityGM/s400/klimt-a-mae-e-filho-d.jpg" width="298" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/z7mJUIrudgM/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/z7mJUIrudgM?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>nick cave | let it be</small><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Estas palavras viajam sem âncora, crescendo a despropósito entre o céu da boca e a boca do corpo. Digo:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada, não é nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
No ventre terroso do teu corpo onde, por assim ser, começa o teu nome, uma árvore de mil frutos que se intromete entre a língua e as mãos, digo mil frutos e a minha boca não nega o seu sabor de mel - que o vento e a chuva nos lavem da face de terra e ainda assim o meu coração se erga sem medo, e com ele todo o tempo. E nos teus olhos, nessas fronteiras de vidro onde tantas vezes espreitei a eternidade, duas asas nos esperem num abraço que nos há-de elevar pelos céus.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada, não é nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quem nos parte deixa para trás um rasto de coisas por nomear. Aqui falamos das nossas pequenas tristezas. Quem nos parte habita depois os lugares em que a memória concebe outras histórias e os nomes repousam em nós, e devagarinho, muito devagarinho, enxugamo-nos, num fundo de tanta água.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada, não é nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Comíamos pêssegos maduros sentadas no muro, ensolaradas de tanto abismo lá em baixo, de tanta doçura de frutos e eu:</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada, não é nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
E do amor sobra-me sempre tudo - excepto o que deveria escrever. Achas que o amor que é tudo e mais essa palavra sem nome, pode voar-me por dentro?</div>
<div style="text-align: justify;">
Não, o amor é tudo excepto essas asas nos pés. Tem pés de chumbo e puxa-te para uma escuridão que nem a ti própria reconheces. Não se dá em nomes, não conhece o teu rosto, anda às cegas e de vez em quando desata-se na tua língua, desfaz-se na tua pele como a espuma do mar e tu cais lá dentro e é como um ventre fecundo, sempre a parir dias, sempre a parir noites, e depois nunca mais caminhas, a não ser agarrada a esse chão. Voas, se calhar voas, mas é rente, sempre rente à cova que os teus pés marcam, porque é assim como morrer só que antes do tempo, antes do tempo todo, e tu ficas dependente dessa morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Está frio. Frio de orvalho que pinga nos beirais da nossa casa e penso que tenho para aí oito anos e de pernas nuas e saia rodada sinto um lagarto a descer pela roda. As cores vivas de antes todas a preto e branco, agora mortas. Estou do lado de cá do muro, sou uma menina que não corre e está em frente ao muro de parede alta, muito alta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Deste outro lado do muro imagino até que posso ter oito anos e corro pelo muro em equilíbrio atrás do meu irmão. É apenas um joelho esfolado ou uma ferida de tempo no tempo ou um futuro de filhos a escorrerem entre as pernas.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Nada, não é nada.</div>
<div style="text-align: justify;">
E caminho com os sapatos de chumbo do amor. Essa palavra sem nome escreve-se torto pelas linhas e a direito do meu corpo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Do lado de cá é o amor que é quase tudo - excepto o que deveria ser: do lado de cá o tempo todo que havia de haver nesse tempo todo e finalmente, dizes,</div>
<div style="text-align: justify;">
- beijar-te,</div>
<div style="text-align: justify;">
que é tudo o que deveria ser, o amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Mãe?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Sim?</div>
<div style="text-align: justify;">
- Ainda há tempo, descansa.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-32811713878791808722018-11-12T11:47:00.000+00:002018-11-12T11:47:52.226+00:00Touch my skin to keep me whole<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSzECfqNBGQ33h-svlm7sj4p6BzeOF9w2sGSSh8u_ubTyNJUhlAmx75V4FV5xM9UWWJBrKAiVYCMx_vDV2A_1M1V2M4ZowIssFFcPJ1MSEpRzHDxC5vvTP1pPXKNvP3ltbe3yWx3xtsb8/s1600/6396200783_fa8a4b92c1_b.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1024" data-original-width="768" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhSzECfqNBGQ33h-svlm7sj4p6BzeOF9w2sGSSh8u_ubTyNJUhlAmx75V4FV5xM9UWWJBrKAiVYCMx_vDV2A_1M1V2M4ZowIssFFcPJ1MSEpRzHDxC5vvTP1pPXKNvP3ltbe3yWx3xtsb8/s400/6396200783_fa8a4b92c1_b.jpg" width="300" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/wSL3XMCpULk/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/wSL3XMCpULk?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>jeff buckley | mojo pin</small></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Apenas te amo com a carne magoada de tantos sonhos anteriores, apenas te amo e vou anoitecendo devagar. Apenas te amo com a vulgaridade dos dias, com este silêncio velho à beira do mar, nos canteiros, caminhos de erva e de pedra e de terra, à vez seca à vez húmida e os seus breves pirilampos e orvalhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Trago o chão todo que pisei agarrado a mim, os homens que amei e a ti, os filhos que pari e de ti mãos jovens como manhãs brancas de veludo e o tempo todo, no tempo todo, agarrado a mim.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Apenas te amo com a vulgaridade dos dias.</div>
<div style="text-align: justify;">
Inventa-me outro lugar, vá.</div>
<div style="text-align: justify;">
- Um que seja - perpendicular ao nome das coisas para devolver-me esse espanto redondo que é o amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Um lugar, sim, curvo, fechado, lento, lentíssimo. Como um rasto molhado de silêncio lambendo os caminhos, os dias e na terra, à vez seca à vez seca, o chão que trago agarrado comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
- Apenas te amo com a vulgaridade dos dias. Demasiado quotidiano, talvez, eu que sou só uma alma antiga.</div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-25667465604960702022018-11-08T17:44:00.002+00:002018-11-08T17:44:20.479+00:00Song<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj48HJaMoxjsj9kPEp2AnWSPBm9Jy2Yy_nMzNpiad9ZDv8A6qB4kzV9lfaTDqChJoRRRX2e57-VMsTV5gsi67fPaXyPU1mamlEehmz5_xZ98sSvjf_xh_KCFsIAx_Wbeit_DgULBXFNLnY/s1600/20071101123426_cloe-ferrand_sophiep.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="469" data-original-width="480" height="390" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj48HJaMoxjsj9kPEp2AnWSPBm9Jy2Yy_nMzNpiad9ZDv8A6qB4kzV9lfaTDqChJoRRRX2e57-VMsTV5gsi67fPaXyPU1mamlEehmz5_xZ98sSvjf_xh_KCFsIAx_Wbeit_DgULBXFNLnY/s400/20071101123426_cloe-ferrand_sophiep.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/7OMCz0DXf7s/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/7OMCz0DXf7s?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>justin vernon | a song for a lover of long ago</small><br />
<br />
The weight of the world<br />
is love.<br />
Under the burden<br />
of solitude,<br />
under the burden<br />
of dissatisfaction<br />
<br />
the weight,<br />
the weight we carry<br />
is love.<br />
<br />
Who can deny?<br />
In dreams<br />
it touches<br />
the body,<br />
in thought<br />
constructs<br />
a miracle,<br />
in imagination<br />
anguishes<br />
till born<br />
in human −<br />
<br />
looks out of the heart<br />
burning with purity −<br />
for the burden of life<br />
is love,<br />
<br />
but we carry the weight<br />
wearily,<br />
and so must rest<br />
in the arms of love<br />
at last,<br />
must rest in the arms<br />
of love.<br />
<br />
No rest<br />
without love,<br />
no sleep<br />
without dreams<br />
of love −<br />
be mad or chill<br />
obsessed with angels<br />
or machines,<br />
the final wish<br />
is love<br />
− cannot be bitter,<br />
cannot deny,<br />
cannot withhold<br />
if denied:<br />
<br />
the weight is too heavy<br />
<br />
− must give<br />
for no return<br />
as thought<br />
is given<br />
in solitude<br />
in all the excellence<br />
of its excess.<br />
<br />
The warm bodies<br />
shine together<br />
in the darkness,<br />
the hand moves<br />
to the center<br />
of the flesh,<br />
the skin trembles<br />
in happiness<br />
and the soul comes<br />
joyful to the eye −<br />
<br />
yes, yes,<br />
that’s what<br />
I wanted,<br />
I always wanted,<br />
I always wanted,<br />
to return<br />
to the body<br />
where I was born.<br />
<br />
<b>Allen Ginsberg</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-87617915020005477522018-07-26T15:42:00.000+01:002018-07-26T15:47:50.266+01:00Old moon fades into the new<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH5BmbuOQOBa-9WQHdj2pNETx4Wql_GBrJlGdHmz6Y4c5rQfn-XAhxaL7yRxjjFRtcwCBLLSrx6QiJCXSfHUzcBeEGi6rlUT1xORhZgNVcump60ZrqfZ2VMn1TJwdiwKAqJr7ljAYp7-w/s1600/Takala.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="187" data-original-width="280" height="267" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjH5BmbuOQOBa-9WQHdj2pNETx4Wql_GBrJlGdHmz6Y4c5rQfn-XAhxaL7yRxjjFRtcwCBLLSrx6QiJCXSfHUzcBeEGi6rlUT1xORhZgNVcump60ZrqfZ2VMn1TJwdiwKAqJr7ljAYp7-w/s400/Takala.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/idtRhja2rAM/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/idtRhja2rAM?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<small>zero 7 | destiny</small></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E eu quero brincar às escondidas contigo e dar-te as minhas roupas e dizer que gosto dos teus sapatos e sentar-me nos degraus enquanto tu tomas banho e massajar o teu pescoço e beijar-te os pés e segurar na tua mão e ir comer uma refeição e não me importar se tu comes a minha comida e encontrar-me contigo no Rudy e falar sobre o dia e passar à máquina as tuas cartas e carregar as tuas caixas e rir da tua paranóia e dar-te cassetes que tu não ouves e ver filmes óptimos ver filmes horríveis e queixar-me da rádio e tirar-te fotografias a dormir e levantar-me para te ir buscar café e brioches e folhados e ir ao Florent beber café à meia-noite e tu a roubares-me os cigarros e a nunca conseguir achar sequer um fósforo e falar-te sobre o programa da televisão que vi na noite anterior e levar-te ao oftalmologista e não rir das tuas piadas e querer-te de manhã mas deixar-te dormir um bocado e beijar-te as costas e tocar na tua pele e dizer quanto gosto do teu cabelo dos teus olhos dos teus lábios do teu pescoço dos teus peitos do teu rabo do teu _______________________ e sentar-me nos degraus a fumar até o teu vizinho chegar a casa e se sentar nos degraus a fumar até tu chegares a casa e preocupar-me quando estás atrasada e ficar surpreendido quando chegas cedo e dar-te girassóis e ir à tua festa e dançar até ficar todo negro e pedir desculpa quando estou errado e ficar feliz quando me desculpas e olhar para as tuas fotografias e desejar ter-te conhecido desde sempre e ouvir a tua voz no meu ouvido e sentir a tua pele na minha pele e ficar assustado quando estás zangada e um dos teus olhos vermelho e o outro azul e o teu cabelo para a esquerda e o teu rosto para oriente e dizer-te que és lindíssima e abraçar-te quando estás ansiosa e amparar-te quando estás magoada e querer-te quando te cheiro e ofender-te quando te toco e choramingar quando estou ao pé de ti e choramingar quando não estou e babar-me para o teu peito e cobrir-te à noite e ficar frio quando me tiras o cobertor e quente quando não o fazes e derreter-me quando sorris e desintegrar-me quando te ris e não compreender porque é que pensas que eu te estou a deixar quando eu não te estou a deixar e pensar como é que tu podes achar que eu alguma vez te podia deixar e pensar quem tu és mas aceitar-te na mesma e contar-te sobre o rapaz da floresta encantada de árvores-anjo que voou por cima do oceano porque te amava e escrever-te poemas e pensar porque é que tu não acreditas em mim e ter um sentimento tão profundo que para ele não existem palavras e querer comprar-te um gatinho do qual teria ciúmes porque teria mais atenção que eu e atrasar-te na cama quando tens de ir e chorar como um bebé quando finalmente vais e ver-me livre das baratas e comprar-te prendas que tu não queres e levá-las de volta outra vez e pedir-te em casamento e tu dizeres não outra vez mas eu continuar a pedir-te porque embora tu penses que eu não estou a falar a sério eu estou mesmo a falar a sério desde a primeira vez que te pedi e vaguear pela cidade pensando que ela está vazia sem ti e querer aquilo que queres e achar que me estou a perder mas saber que estou seguro contigo e contar-te o pior que há em mim e tentar dar-te o meu melhor porque não mereces menos e responder às tuas perguntas quando deveria não o fazer e dizer-te a verdade quando na verdade não o quero e tentar ser honesto porque sei que preferes assim e pensar que acabou tudo mas ficar agarrado a apenas mais dez minutos antes de me atirares para fora da tua vida e esquecer-me de quem eu sou e tentar chegar mais perto de ti porque é maravilhoso aprender a conhecer-te e vale bem o esforço e falar mau alemão contigo e pior ainda em hebreu e fazer amor contigo às três da manhã e de alguma maneira de alguma maneira de alguma maneira transmitir algum do esmagador, imortal, irresistível, incondicional, abrangente, preenchedor, desafiante, contínuo e infindável amor que tenho por ti.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Sarah Kane</b></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-4253843588300977462018-06-28T14:58:00.000+01:002018-06-28T14:58:57.409+01:00I gave myself in that misty light<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGX1W_JuTvBxb9i0-Akq6_KMexGNC1zoC6uQrx0K4fWUJEkBjEEaIOKjdhxcb4-ag6TDKtuFos6jAhE6hxZzexj_eWjBKT0sNpH5NBAUJe-eRv8l0yArCUWgLnRgw529CAVhIcRlyN5tI/s1600/20180628_143941.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="572" data-original-width="592" height="386" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGX1W_JuTvBxb9i0-Akq6_KMexGNC1zoC6uQrx0K4fWUJEkBjEEaIOKjdhxcb4-ag6TDKtuFos6jAhE6hxZzexj_eWjBKT0sNpH5NBAUJe-eRv8l0yArCUWgLnRgw529CAVhIcRlyN5tI/s400/20180628_143941.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/5PC68rEfF-o/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/5PC68rEfF-o?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>jeff buckley | lilac wine</small><br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<i>Eles olhavam e não a viam. Ela fazia mais sombra do que existia.</i></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<b>Clarice Lispector</b></div>
<br />
Gostava de te mostrar<br />
o meu labiríntico arvoredo ou<br />
a sinfonia dos meus canteiros;<br />
levar-te ligeiro pela mão<br />
numa manhã deslumbrada de sol<br />
- vês? - aqui, a gravidade das camélias<br />
ali, os pirilampos, infinitos.<br />
Haveria poços e covis de lobos<br />
(portas inteiras de escuridão sonora)<br />
mas também tulipas e girassóis<br />
e rios, entornados em cascata,<br />
e as folhas leves de doce vento.<br />
Gostava de te mostrar<br />
o meu jardim de dentro<br />
(pétalas e pássaros, odoríferos, habitando<br />
a nudez cava dos troncos)<br />
gostava - mas uivam os lobos -<br />
- tu assustas-te.Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-54775197265869830842018-06-26T14:28:00.000+01:002018-06-26T14:28:00.425+01:00Se nos encontrarmos de novo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28AXMDVnDuKm-htdkHpRb_GpAUWzHfWFCJaTEhCLyRVYBXtRIu22wYO41tybV55etpHSx6a9TReQf4kqWbr5QpavR4iEZiCUI1COUiZPskaijjA-x_5rPGyR6q0N8SFmaDDE1aYcITHQ/s1600/Underwater-Love-Story-6.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="464" data-original-width="700" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj28AXMDVnDuKm-htdkHpRb_GpAUWzHfWFCJaTEhCLyRVYBXtRIu22wYO41tybV55etpHSx6a9TReQf4kqWbr5QpavR4iEZiCUI1COUiZPskaijjA-x_5rPGyR6q0N8SFmaDDE1aYcITHQ/s400/Underwater-Love-Story-6.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/V1ygFXUe6k4/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/V1ygFXUe6k4?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>jeff buckley | morning theft</small><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Podemos chamar alguém com tanta força, mesmo sem o sabermos, que essa pessoa vem do outro lado do mundo ao nosso encontro. E a nossa vida é feita desses encontros.</div>
<br />
<b>Ana Teresa Pereira </b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-65371005524578372462018-06-08T12:28:00.001+01:002018-06-08T12:28:19.467+01:00Deixarei aberta a porta<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNAKBZtvDT_nqYuw1V5yWm-cFyxyStstGeDqIx6mPashNgbgx8WTqaZhbupfo8AVNLsL6rooaa50OFB6ljghz9RJHRxKh49htBbRBYhUE50P_N_j6LIomYsBIjfEWW90Z-g2aCg4Ej-fw/s1600/6a003f20144c2f76ab2db48f01a37e85--b-w-photos-mirror-mirror.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="485" data-original-width="736" height="262" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNAKBZtvDT_nqYuw1V5yWm-cFyxyStstGeDqIx6mPashNgbgx8WTqaZhbupfo8AVNLsL6rooaa50OFB6ljghz9RJHRxKh49htBbRBYhUE50P_N_j6LIomYsBIjfEWW90Z-g2aCg4Ej-fw/s400/6a003f20144c2f76ab2db48f01a37e85--b-w-photos-mirror-mirror.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/FI5OTwdzAlo/0.jpg" frameborder="0" height="26" src="https://www.youtube.com/embed/FI5OTwdzAlo?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>james | out to get you</small></div>
<div>
<br /></div>
Para o caso de chover na tua rua<br />
e quereres enxugar o corpo <br />
entre meus braços <br />
Para o caso de o silêncio te acometer <br />
e recordares a língua estranha <br />
que aprendeste a meu lado<br />
Para o caso de regressares<br />
humedecendo as lembranças de luas <br />
Para o caso de o trópico te reclamar<br />
impaciente entre seus verdes<br />
Ou para o caso de ser noite na tua morada <br />
deixarei aberta a porta<br />
<br />
<b> Josefa Parra</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-9666630972586038712018-05-26T18:02:00.000+01:002018-05-26T18:02:09.220+01:00A tua boca clara singrando largamente no meu peito<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuTIUJdnjsP_oGEqaw-cF8Oob6PIncXG-g-VQhWTudjWKq5pEEqM8hr4oe7O5aBshyHbSMsPlXlLYgB-LCByDCNhm1ZY03_BerRJBJZWkZV3DzPKJkjr214__zK6bnjNOjHvAkCpouUdE/s1600/blog82.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="431" data-original-width="780" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhuTIUJdnjsP_oGEqaw-cF8Oob6PIncXG-g-VQhWTudjWKq5pEEqM8hr4oe7O5aBshyHbSMsPlXlLYgB-LCByDCNhm1ZY03_BerRJBJZWkZV3DzPKJkjr214__zK6bnjNOjHvAkCpouUdE/s400/blog82.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/W6pFKTUIL3E/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/W6pFKTUIL3E?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>chris isaak | you owe me some kind of love</small></div>
<div>
<br /></div>
Como se houvesse uma tempestade <br />
escurecendo os teus cabelos, <br />
ou, se preferes, minha boca nos teus olhos<br />
carregada de flor e dos teus dedos; <br />
como se houvesse uma criança cega<br />
aos tropeções dentro de ti, <br />
eu falei em neve - e tu calavas<br />
a voz onde contigo me perdi. <br />
Como se a noite se viesse e te levasse, <br />
eu era só fome o que sentia; <br />
Digo-te adeus, como se não voltasse <br />
ao país onde teu corpo principia. <br />
Como se houvesse nuvens sobre nuvens<br />
e sobre as nuvens mar perfeito, <br />
ou, se preferes, a tua boca clara <br />
singrando largamente no meu peito.<br />
<br />
<b> Eugénio de Andrade</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-71964812165307278902018-04-23T18:55:00.000+01:002018-04-23T18:55:50.927+01:00To get a sense of the infinite<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMlGznq-5n1cQSl1iFQt7mJdNLmajghNk9sFqdxZCwDdI8GRBsgdrTkt1_wkI35rEBzDGBZTdJqBG_ZVV3zRvKpqpGPRUSB9MorCc6vSz6Zu-e8N88wXjXjFRTTqRW2on3KWEVesHuiEA/s1600/1974538-268e96219912de34.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="463" data-original-width="700" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgMlGznq-5n1cQSl1iFQt7mJdNLmajghNk9sFqdxZCwDdI8GRBsgdrTkt1_wkI35rEBzDGBZTdJqBG_ZVV3zRvKpqpGPRUSB9MorCc6vSz6Zu-e8N88wXjXjFRTTqRW2on3KWEVesHuiEA/s320/1974538-268e96219912de34.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/yguPsmlploE/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/yguPsmlploE?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>waterboys | this is the sea</small></div>
<div>
<br /></div>
the way a photographer, when he sets up<br />
a shot of sea or desert out to the edge of the horizon,<br />
has to get something large and close-up into the picture -<br />
a branch, a chair, a boulder, the corner of a house,<br />
to get a sense of the infinite, and he forgets about the sea<br />
and the desert - that’s how i love you.<br />
<br />
<b>Yehuda Amichai</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-85188966251182601592018-04-18T15:43:00.000+01:002018-04-18T15:43:35.656+01:00En el momento justo en que el sueño se encuentra con esos ojos abiertos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg16hUJTo1-3BW7EAR23erGejeqFWTboI8zFEW8MbmFxqBwz_1D6CiTqztXn6qu2sGQSSp09WZttqbIRX3YBVaFKPj_YI6CAW5W13iPfpnKsfmQj-vURszFx1ettFsBuLlZu1ElUxgz5Ug/s1600/aubrey+rose.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="799" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg16hUJTo1-3BW7EAR23erGejeqFWTboI8zFEW8MbmFxqBwz_1D6CiTqztXn6qu2sGQSSp09WZttqbIRX3YBVaFKPj_YI6CAW5W13iPfpnKsfmQj-vURszFx1ettFsBuLlZu1ElUxgz5Ug/s400/aubrey+rose.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/UvTZwhOHYVA/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/UvTZwhOHYVA?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<small>dark dark dark | daydreaming</small><br />
<br />
No debiera ser posible dormirse sin tener cerca<br />
una voz para poderse despertar.<br />
No debiera ser posible<br />
dormirse sin tener cerca<br />
la propia voz para poderse despertar.<br />
No debiera ser posible<br />
dormirse sin despertar<br />
en el momento justo en que el sueño se encuentra<br />
con esos ojos abiertos<br />
que ya no necesitan dormir más.<br />
<br />
<b>Roberto Juarroz</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-10302117983773018412018-04-03T18:29:00.000+01:002018-04-03T18:29:24.556+01:00(And when the sky drops all those feathers)<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5m3Xb722sW0-7PHG3wN0286vhf95aDAbovmOSFYdr1VVEKSEU4wQ_KokAZKPM1gqTA-XQGZDZR4gKPD9KeIIgSJnC-9ODnPYrsnuukgm0xtyQEhrJ08iq-y5oUjQ6FbgNXotSenUaQP4/s1600/abk_reveries_ahandfulofrainfinal.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="900" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh5m3Xb722sW0-7PHG3wN0286vhf95aDAbovmOSFYdr1VVEKSEU4wQ_KokAZKPM1gqTA-XQGZDZR4gKPD9KeIIgSJnC-9ODnPYrsnuukgm0xtyQEhrJ08iq-y5oUjQ6FbgNXotSenUaQP4/s400/abk_reveries_ahandfulofrainfinal.jpg" width="400" /></a></div>
<span style="background-color: whitesmoke; color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 16px;"><br /></span>
<span style="background-color: whitesmoke; color: #333333; font-family: sans-serif; font-size: 16px;"><br /></span>
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/NlJOM5YLlm8/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/NlJOM5YLlm8?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>alela diane | oh my mama</small></div>
<div>
<br /></div>
Nenhum amor é estéril, um filho<br />
pode ser uma estrela ou ser um verso.<br />
<div>
<br /></div>
<div>
<b>Eugénio de Andrade </b></div>
Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3440733615336309446.post-75797533002261647002018-04-03T16:05:00.002+01:002018-04-03T16:05:33.240+01:00Darkness sometimes falls right in the middle of an embrace<div id="wheel" style="background-color: white; color: #424242; font-family: "Helvetica Neue", Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 11px; padding: 0px 0px 20px; text-transform: uppercase;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-lUWr_5jYXn2I3iwGeFq91Eb8L3IsGFeSuNWxKnWgc-jNFnN4St03PrzzBlC1IH5VVKvmGwTsg9ql4tQqnsh7yPnjRi8hY5x8-Ug6f5eBOLjfgXk3tpI64_BTUX_A9x5BqcZrx3vacdE/s1600/11947576_1065225963490699_2547586911288858629_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="300" data-original-width="480" height="250" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-lUWr_5jYXn2I3iwGeFq91Eb8L3IsGFeSuNWxKnWgc-jNFnN4St03PrzzBlC1IH5VVKvmGwTsg9ql4tQqnsh7yPnjRi8hY5x8-Ug6f5eBOLjfgXk3tpI64_BTUX_A9x5BqcZrx3vacdE/s400/11947576_1065225963490699_2547586911288858629_n.jpg" width="400" /></a></div>
<center>
</center>
</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/PidN7lPr4F0/0.jpg" frameborder="0" height="23" src="https://www.youtube.com/embed/PidN7lPr4F0?feature=player_embedded" width="420"></iframe></div>
<div>
<small>nick cave | the sweetest embrace</small></div>
<div>
<br /></div>
when a man grows older, his life becomes less dependent<br />
on the rhythms of time and its seasons. darkness sometimes<br />
falls right in the middle of an embrace<br />
of two people at a window; or a summer comes to an end<br />
during a love affair, while the love goes on<br />
into autumn; or a man dies suddenly in the middle of speaking<br />
and his words remain there on either side; or the same rain<br />
falls on the one who says goodbye and goes<br />
and on the one who says it and stays; or a single thought<br />
wanders through cities and villages and many countries<br />
in the head of a man who is travelling.<br />
<br />
<b>Yehuda Amichai</b>Vanessahttp://www.blogger.com/profile/00281701901666229634noreply@blogger.com0